terça-feira, 23 de junho de 2020

Rosas


Durante um momento difícil da vida, talvez o mais difícil que já tenha passado até o momento, recebi uma caixa de presente do meu pai e dentro dela continha uma única rosa. Coloquei-a no vaso e comecei a observa-la e meditar um pouco. Como elas são magníficas não? Mas como elas são capazes de nos machucar se não tomarmos cuidado ao pegar elas. Percebi que todos nós somos que nem as rosas.

ADUBAR...
Se quisermos uma floração abundante, precisamos usar o adubo certo. Cada tipo de flor é único, assim como nós. Apesar de todas as flores serem flores e de todos nós sermos seres humanos, cada um tem sua peculiaridade e precisa de um adubo específico para crescer. Precisamos observar, conhecer as flores que estão em nosso jardim, e quando nos depararmos com alguma espécie desconhecida, precisamos pedir ajuda à alguém que conheça a respeito dela.

REGAR... 
Rosas precisam ser regadas especialmente quando o tempo está seco e quente. Mas cuidado, deve-se evitar molhar as folhas e flores. É necessário regar diretamente o solo, onde se encontram as raízes. Se fornecemos a água necessária no solo, a rosa é capaz de sozinha drenar essa água e distribuir pelo seu corpo da melhor forma. Afinal, quem melhor do que ela para saber qual parte do corpo está precisando de mais ou menos água?
Muitas vezes queremos jogar um “balde de água” nas rosas (pessoas) com esperanças de que isso as faça viver por muito tempo. Tiramos delas a oportunidade de se manterem vivas por si só, sobrecarregamos elas ao querer tomar as rédeas de suas vidas e roubamos sua independência e autoconfiança ao querer viver por elas quando não acreditamos que apenas fornecer a água seria suficiente, quando não acreditamos que elas são capazes de sobreviver por si só.

ENFERMIDADES...
As flores ficam doentes e ao conhecer profundamente cada espécie, sabemos que cada uma delas é afetada por uma doença diferente. O tratamento nunca é o mesmo. Mas quando conhecemos a rosa que está em nosso jardim, sabemos exatamente quais doenças podem acomete-la. Nosso maior trabalho não é cuidar dela quando ela adoecer, mas dar condições básicas e tomar os cuidados devidos para que ela nunca adoeça.

ESPINHOS... 
As rosas em particular possuem espinhos. Tão lindas, mas se manipuladas da forma errada seus espinhos podem nos ferir. Isso nos mostra que é preciso ter delicadeza ao manuseá-la. Mas esses espinhos não são apenas um mecanismo de defesa, eles servem pra que as rosas não percam excesso de água, que é vital pra sua sobrevivência. Já pensou que todos nós possuímos espinhos assim? Espinhos que nos protegem de ameaças que podem tirar de nós a única coisa que nos mantém vivos. Talvez aos olhos dos outros esses espinhos sejam ruins, inúteis. Mas são vitais para nossa sobrevivência, e se alguém tiver sabedoria de manusear uma rosa, não irá se ferir com os espinhos, pelo contrário, saberá apreciar a beleza deles.

"Há pessoas que choram por saber que as rosas tem espinhos; há outras que sorriem por saber que os espinhos tem rosas." - Machado de Assis

PODAR... 
Quero dar ênfase na importância desse instrumento na vida de uma flor. Eventualmente com o tempo, algumas folhas ou flores secam. O tempo, as circunstâncias, doenças ou até mesmo a falta de cuidado faz com que isso aconteça e é inevitável. Uma parte dessa flor morre, e precisamos poda-la para encorajar o seu crescimento, pra que essa parte morta não permita que toda parte que ainda está viva morra também. Pode parecer algo grosseiro e perverso cortar uma parte inteira da planta, ela pode perder sua beleza, sua identidade por um tempo, mas pouco tempo depois, com cuidado, florescerá algo novo no lugar que a tornará tão bela quanto antes.

É preciso utilizar a tesoura certa para a poda e é importantíssimo que ela esteja LIMPA para não danifica-la e deixá-la vulnerável à doenças. Quantos de nós queremos ser essa tesoura na vida das pessoas e acabamos tornando as coisas piores do que já estavam? Não somos a tesoura certa, não estamos limpos e simplesmente não sabemos onde exatamente cortar, cortando junto com o que morreu o restante que ainda estava vivo.



MORTE... 
Assim como o momento de podar um dia chega, a morte também chega para uma flor. Quem já cuidou de alguma sabe o quão desesperador é quando ela está lá, linda, maravilhosa, e no dia seguinte nos deparamos com ela seca, morta e nos perguntamos: o que eu fiz e errado? Ela estava bem até ontem! Passei com essa experiência, e minha mãe, que entende muito mais de flores do que eu magicamente conseguiu reviver aquela flor que estava morta.

Quero dizer que muitas vezes parece que a vida acabou naquele momento, mas assim como o ciclo das plantas, a morte pode significar uma nova vida, um novo ciclo, um RECOMEÇO. Porém, é preciso alguém que tenha profundo conhecimento sobre elas, sobre nós, para pegar toda a estrutura morta e conseguir extrair dela o pouco de vida que resta, mesmo que muitas vezes nós mesmos não consigamos enxergar que ainda resta alguma vida.

Mas para restaurar aquilo que estava morto, é preciso seguir três passos:
1 - É preciso limpar o vaso.
O vaso pode conter impurezas, doenças, e resquícios daquilo que levou uma rosa a morte. Se não fizermos isso, ela é contaminada novamente no momento mais frágil da sua vida (o começo dela), e morrerá muito em breve por ainda não ter forças pra lutar sozinha contra essas enfermidades.

2- É preciso fornecer adubo novo.
Para florescer novamente ela precisará de um adubo diferente, um adubo NOVO. Ela está começando a viver novamente e precisará de todos os nutrientes pra adquirir corpo e força novamente. O adubo que antes servia agora já não serve mais. Muitas vezes nós não entendemos isso na vida das pessoas e continuamos a usar um adubo velho que um dia funcionou, mas hoje não é capaz de fornecer os nutrientes necessários para viver.

3 - É preciso redobrar o cuidado e a atenção.
Todo ser vivo é mais frágil no momento de seu nascimento. É preciso ter sabedoria para cultivar, regar, podar e eliminar as pestes que ficam ao redor querendo se alimentar dessa rosa em crescimento. Mas tudo na medida certa.


Queria dizer a você leitor, que durante o ciclo a vida é inevitável que uma parte de nós adoeça ou até morra. Pode parecer que é o fim e que nunca iremos nos recuperar. Mas se nos agarramos a aquilo que ainda está vivo, mesmo que seja uma parte mínima de nós, e nos desfizermos de tudo que está morto, ainda que de toda uma flor reste apenas um pedacinho bom raiz , esse pedacinho será capaz de gerar uma flor completamente nova. Nos sentiremos incompletos, vazios, frágeis, vulneráveis e com medo de morrer novamente muitas das vezes. Mas com os cuidados certos, amor, paciência e com o tempo, podemos um dia florescer novamente com uma formosura jamais vista antes. Nunca seremos como fomos um dia, mas poderemos ser melhores, se acreditarmos nisso. 

Deus enxerga vida onde aos nossos olhos não há mais vida, apenas morte. Ele levou Ezequiel até o vale de ossos secos e disse-lhe: Profetiza sobre esses ossos secos! Deus sabia exatamente onde ainda poderia haver vida, mesmo em meio a morte. Ele pegou a flor morta (ossos), forneceu um adubo NOVO (nervos, carne e pele) e pra finalizar forneceu a água que daria condições para que toda essa estrutura vivesse novamente (o espírito). Ao renascer eles não viam mais esperanças por que haviam sido destruídos anteriormente (Ezequiel 37:11), mas Deus declarou que abriria os sepulcros e os faria sair daquele local onde só há morte, os levando para um lugar onde há vida, Israel (Ezequiel 37:12). 

                                        

Não há jardineiro melhor do que Deus para cuidar das rosas. Ele as criou e as conhece como ninguém. Ele sabe manuseá-las de forma perfeita, podando apenas onde é necessário, e trazendo vida novamente quando pensamos que não há mais vida, quando perdemos a esperança. 

A morte muitas vezes não é o fim, é apenas um novo começo. Acredite que as rosas que estão no seu jardim podem florescer novamente.




sábado, 13 de junho de 2020

Motivação

Antes de começar o texto, gostaria de explicar que ele não se trata de fornecer uma motivação específica para um indivíduo. Esse texto se trata do encontro da motivação em um determinado momento da vida, especialmente no momento atual em que estamos com esse isolamento social devido a Pandemia Covid-19. Cito exemplos bíblicos, porém, independentemente de religiões ou crenças, todos nós precisamos ter ciência de que essas motivações existem e de onde elas se encontram, sejam elas quais forem. 



O que você faria se: 
Te dissessem que só você tem o poder de tornar o dia de alguém melhor?
Te dissessem que só você tem o poder de ajudar alguém que passa fome?
Te dissessem que só você tem o poder de salvar uma vida?
Te dissessem que só você tem o poder de transformar o mundo num lugar melhor?

Parecem decisões fáceis de tomar, especialmente quando elas dependem exclusivamente de você

Agora faço as mesmas perguntas novamente, acrescentando um pequeno porém: 

Se te dissessem que só você tem o poder de tornar o dia de alguém melhor, mesmo que você tenha tido o pior dia de sua vida, o que você faria?
Se te dissessem que só você tem o poder de ajudar alguém que passa fome, mesmo que esse alguém tenha magoado você profundamente, o que você faria?
Se te dissessem que só você tem o poder de salvar uma vida, mesmo que no momento você tenha vontade de cometer suicídio, o que você faria?
Se te dissessem que só você tem o poder de transformar o mundo num lugar melhor, mesmo que o mundo tenha te transformado na pior das pessoas, o que você faria?

Parecem decisões difíceis de tomar, especialmente quando não há motivação. Mas isso não muda o fato de que a mesma pergunta deveria ter a mesma resposta. 

O que é certo continua sendo certo e temos que fazê-lo mesmo quando não encontramos uma motivação inicial. Essas perguntas são um pequeno exemplo de que muitas das vezes as circunstâncias não são capazes de alterar os resultados finais, se apenas tomarmos uma atitude. Os  culpados por alterarem muitos desses resultados somos nós, apenas nós. 

Vou citar alguns exemplos bíblicos de pessoas que aparentemente não possuíam motivação inicial para fazer aquilo que era correto. Paulo é um exemplo de que as motivações podem ser encontradas durante a caminhada, e Jó, um exemplo de que as motivações podem ser encontradas no final de uma caminhada. 

PAULO 
Paulo, denominado anteriormente por Saulo, foi um dos maiores perseguidores dos discípulos do Senhor (Atos 8:3), até que o Senhor resolveu ter um encontro com ele, como relatado em Atos 9. Após sua conversão, Paulo poderia não ter motivações para proclamar a mensagem do evangelho, pois os discípulos anteriormente perseguidos poderiam não dar créditos às suas pregações (Atos 9:21) e ele seria alvo de perseguição dos judeus, podendo até ser morto (Atos 9:23).

Mesmo assim ele encontrou fortes motivações durante a sua caminhada, como por exemplo seu amigo Barnabé, enviado por Deus, que testemunhava a respeito de sua conversão (Atos 9:27) e o acompanhou durante muitos anos. Ele também foi separado formalmente perante à igreja para a obra do Senhor (Atos 13:2), levando muitos à conversão; passou por diversas igrejas pregando sua mensagem, mantendo contato com elas através de suas cartas e foi instrumento do Senhor para cura de muitos, como no caso do paralítico de nascença mencionado em Atos 14:8. 

Homem fiel ao Senhor, possuía dez filhos e era o homem mais rico do oriente (Jó 1:2). Diante do testemunho dado pelo Senhor da fidelidade de Jó, Satanás sugere que a integridade de Jó se devia ao fato dele ser tão abençoado pelo Senhor (Jó 9:10). Desta forma, o Senhor permite que Satanás toque em tudo que Jó possuía, exceto sua própria vida (Jó 9:12).  Ele perdeu todas as suas riquezas, seus filhos, foi acometido por uma terrível enfermidade, foi incompreendido por sua própria esposa e injustiçado por seus amigos. Apesar de todas essas coisas Jó continuou fiel ao Senhor

Quando falamos de fé, não podemos pensar em uma fé cega. Toda nossa fé é baseada parte por aquilo que não vemos (irracional), parte por aquilo que vemos (racional) e a maior prova disto é a própria bíblia (tratarei mais detalhadamente sobre isso na postagem sobre Fé Cega). 

Jó poderia ter abandonado um Deus que aparentemente sem motivos algum tirou tudo dele, uma vez que Jó não perdeu tudo o que tinha como consequência de algum pecado. Ainda sim, mesmo sem entender o motivo pelo qual essas coisas aconteceram, ele continuou firme em sua fé. Essa racionalidade humana entra em conflito com a racionalidade espiritual, pois por um lado Jó poderia pensar que não fazia sentido Deus ter feito algo assim e isso bateria de frente com tudo que ele havia aprendido sobre Deus até o momento. Por outro lado, tudo aquilo que ele aprendeu sobre Deus deveria servir de motivação para que ele continuasse acreditando apesar dos infortúnios que o acometeram. 

A parte irracional de sua fé deu motivação para Jó para continuar acreditando mesmo sem entender, pois crendo em Deus e em suas promessas, Jó sabia que Deus poderia tornar o amanhã melhor. Sua motivação de fazer a coisa certa (permanecer fiel), estava no final de sua caminhada, mesmo que ele não pudesse enxergar isso. Como resultado, depois de tudo isso, Deus abençoou o final da vida de Jó muito mais do que o início (Jó 42:12).  Fez com que os amigos de Jó fossem até ele pedir uma oração para que não sofressem as consequências de suas ações, lhe deu muito mais riquezas, lhe deu dez filhos e permitiu que ele vivesse mais 140 anos, vendo até a quarta geração de seus descendentes. 

MESMO MOTIVADO, DURANTE A CAMINHADA, POSSO SER DESMOTIVADO NOVAMENTE? 
Você já deve ter feito essa pergunta a si mesmo, e a resposta é: Sem dúvidas! José é um bom exemplo disso. 

JOSÉ
José era filho preferido de Jacó, por ser seu filho na velhice, tanto que seu pai o presenteou com uma túnica longa, o que causou ódio aos irmãos (Gênesis 37:3-4). Motivados pelo ciúmes, seus irmãos o venderam aos ismaelitas, que o levaram para o Egito (Gênesis 37:27) e o venderam a Potifar, oficial do faraó e capitão da guarda. 

Em Gênesis 39 é relatado que José começou a prosperar graças ao Senhor, sendo promovido a supervisor da casa de Potifar. Ele sofreu perseguições da mulher de Potifar que o desejava, e mesmo fugindo dela em todas as situações, acabou sendo preso pelas mentiras desta mulher. Estando na prisão, o Senhor o tratou com bondade e o carcereiro encarregou José de todos os que estavam na prisão. Em Gênesis 41 é relatado que José interpreta os sonhos do faraó, e é nomeado comandante de toda a terra do Egito aos 30 anos de idade.   

José sofreu muitas injustiças o que certamente poderia ter feito com que ele não tivesse motivações para seguir em frente. Ele poderia ter se conformado com a situação e ter permanecido como um mero escravo ou poderia ter morrido na prisão. Apesar disso, mesmo quando tudo parecia estar dando errado, ele constantemente dava o seu melhor apesar das circunstâncias, permanecendo um servo fiel a Deus, e a bíblia relata que "O Senhor concedia bom êxito em tudo o que José realizava" (Gênesis 39:23). Quando algo dava errado na vida de José, isso o levava a um lugar onde ele prosperaria mais do que antes. Isso nos mostra que ao longo da nossa caminhada as coisas podem não sair como esperávamos, mas precisamos continuar dando nosso melhor até encontrar uma nova motivação no meio do caminho.

As pessoas costumam exemplificar que quando alcançamos algo chegamos no patamar de uma escada e que quando perdemos algo, caímos degraus abaixo dessa escada. Porém, a história de José nos ensina que muitas das vezes circunstâncias ruins não significam descer degraus, retroceder, mas sim avançar, subir um degrau, rumo a um novo patamar desconhecido. 


Lembre-se: A motivação nem sempre vai estar no começo da sua caminhada, ela pode ser encontrada no meio ou no final dela. É preciso olhar para o amanhã com esperanças e entender que ele poderá ser melhor do que hoje.